domingo, 8 de dezembro de 2013

BRASIL: LIVRO DE ROMEU TUMA JUNIOR DENUNCIA SUPOSTA 'FÁBRICA DE DOSSIÊS' NO GOVERNO FEDERAL

SÃO PAULO - Em livro a ser lançado nesta semana, o ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior afirma que havia no Ministério da Justiça no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma "fábrica de dossiês" contra adversários políticos do PT. A informação é de reportagem publicada pela revista "Veja". Tuma Júnior comandou a Secretaria Nacional de Justiça, ligada ao Ministério da Justiça, de 2007 a 2010, mas foi demitido em junho de 2010 em meio a acusações de envolvimento com o chinês Li Kwok Kwen, conhecido como Paulo Li, preso pela Polícia Federal em São Paulo por contrabando, imigração ilegal e acusado de ser chefe da máfia chinesa na capital paulista.

Em seu livro, intitulado "Assassinato de Reputações - Um crime de estado" (Editora Topbooks), Tuma Filho fala de pedidos que teria recebido de superiores para "esquentar" dossiês contra políticos da oposição, como o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o então senador Tasso Jereissati (PSDB). Menciona também uma suposta conta do mensalão nas Ilhas Cayman, e fala do suposto envolvimento de militantes do PT na morte do ex-prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel.
Tuma Jr. foi demitido por envolvimento com a máfia chinesa em São Paulo
À reportagem de "Veja", Tuma Júnior diz que, em 2010, o então ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto lhe entregou um dossiê apócrifo sobre supostas contas no exterior de Perillo, e ordenou a abertura de uma investigação, que teria sido pedida por Gilberto Carvalho, à época chefe do gabinete do presidente Lula. À revista, Tuma também relata que, em janeiro de 2009, o então senador Aloizio Mercadante (PT) entregou a ele um pendrive contendo um dossiê apócrifo e pediu que ele investigasse Jereissati. Tuma Júnior afirma ainda que o departamento que ele chefiava foi usado "clandestinamente" para obter informações sobre despesas sigilosas da ex-primeira-dama Ruth Cardoso.
A revista afirma que o livro apresenta documentos que mostram que o governo se mobilizou para impedir uma investigação que identificou uma conta secreta nas Ilhas Cayman que supostamente receberia recursos do mensalão. "Eu descobri a conta do mensalão nas Ilhas Cayman, mas o governo e a Polícia Federal não quiseram investigar", disse Tuma Júnior à revista.
À "Veja", o autor afirma ainda ter certeza que a morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), em 2002, foi um crime de encomenda e que os empresários que pagavam propina ao PT na cidade não queriam matá-lo, mas "assumiram o risco". "Era para ser um sequestro, mas virou um homicídio", diz Tuma Júnior, que na época era o delegado encarregado de investigar o caso, à revista. O ex-secretário afirma que o Gilberto Carvalho confessou a ele, aos prantos, que o dinheiro desviado pela prefeitura de Santo André era entregue para o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, para ajudar o PT nas eleições. E que Daniel não sabia dos desvios.
Tuma Júnior diz no livro, e reafirma à revista, que o ex-presidente Lula quando sindicalista foi informante do Dops (Departamento de Ordem e Política Social), o órgão de repressão na ditadura em São Paulo, que erá dirigido pelo pai do autor, Romeu Tuma, com quem Tuma Júnior trabalhava na época. À "Veja" Tuma Júnior não acusa o ex-presidente de ter traído seus companheiros ou a causa que defendia. Segundo ele, o petista teria dado informações ao Dops que ajudavam a evitar choques com a polícia. Perguntado sobre se teria provas dessas colaboração de Lula com o Dops, diz: "Não excluo a possibilidade de algum relatório do Dops da época registrar informações atribuídas a um certo informante de codinome Barba. Era esse o codinome dele".
Na obra, Tuma Júnior também teria acusado o PT de querer que ele vazasse que havia um cartel nos trens em 2008, para atingir os tucanos nas eleições municipais. O ex-secretário teria dito que se negou a ceder às pressões do PT porque discordava desse modo de agir e pois acreditava que "nunca se chegaria ao final da investigação".
De acordo com "Veja", no livro, Tuma Júnior diz, ainda, que todos os ministros do Supremo Tribunal Federal foram grampeados, com escuta de telefones móveis e escuta ambiental, por "arapongas" que prestavam serviços de segurança e limpeza nos gabinetes.
Tuma Júnior voltou a atuar como delegado da polícia civil em São Paulo depois de ser demitido da Secretaria Nacional de Justiça, mas já teria se aposentado. À Veja, ele disse que a obra, escrita em parceria com o jornalista Claudio Tognolli, não é uma "vingança pessoal". "(O livro) é a forma que encontrei de tornar pública a minha história para aqueles que têm o interesse de conhecer esse retrato da minha vida profissional. Para que eles possam compreender o motivo pelo qual virei alvo do governo do PT", disse Tuma Júnior à Veja.
Em março de 2010, investigações da Polícia Federal revelaram que o ex-secretário teria sido cliente assíduo do esquema de contrabando de celulares falsificados comandado por Paulo Li. Gravações telefônicas obtidas pela PF mostraram que Tuma Júnior usou sua influência na secretaria para liberar junto ao Fisco de São Paulo produtos apreendidos de um chinês que integrava a rede de negócios de Paulo Li. O ex-secretário também foi acusado de tentar evitar um flagrante no aeroporto de Guarulhos que levou à prisão de sete pessoas e à apreensão de US$ 160 mil, dinheiro que estava na bagagem de familiares da deputada estadual Haifa Madi (PDT). Antes de ser exonerado, ele ainda enfrentou nova denúncia: a de que levou Paulo Li como integrante de sua comitiva em uma viagem oficial a Pequim em fevereiro de 2009.
Processado
Ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, citado no livro de Tuma Jr., anunciou que pretende processar o ex-secretário Nacional de Justiça por “acusações falsas” contra ele. O delegado aposentado fala sobre o livro na edição desta semana da revista Veja, da Editora Abril, para a qual conta ter recebido ordens do governo do PT para fabricar dossiês contra adversários políticos.
Na entrevista concedida ao repórter Robson Bonin, Tuma conta que a morte do então prefeito de Santo André Celso Daniel “foi um crime de encomenda” e que, como “delegado da área onde o crime ocorreu”, à época, acabou ouvindo uma “confissão” do ministro Gilberto Carvalho sobre a prática de desvios da prefeitura do município do ABC Paulista para campanhas políticas do Partido dos Trabalhadores.
– Quando saiu aquela história de que havia desvios na prefeitura, eu, na maior boa fé, procurei a família dele (de Celso Daniel) para levar um conforto. Fui dizer a eles que o Celso nunca desviou um centavo para o bolso dele, e que todo recurso que arrecadávamos eu levava para o Zé Dirceu, pois era para ajudar o partido nas eleições”, teria dito Carvalho numa conversa com Tuma, que o teria procurado quando “estava sob fogo cruzado na imprensa” – disse.
“Repudio as acusações absolutamente falsas do senhor Romeu Tuma Júnior. Vou processá-lo imediatamente, para que ele responda na Justiça pelas calúnias que fez contra mim”, afirma Carvalho, em nota divulgada pela Secretaria-Geral da Presidência neste sábado 7. À Veja, Romeu Tuma Júnior dispara ainda contra outros petistas, como o ex-ministro da Justiça Tarso Genro, hoje governador do Rio Grande do Sul, o ex-presidente Lula e o ex-ministro José Dirceu.
 Como funciona a mídia
Segundo o jornalista Paulo Nogueira, editor do site Diário do Centro do Mundo, “Li Kwong Kwen foi preso, em 2010. A Polícia Federal apurou que ele, conhecido como Paulo Li, era chefe de uma máfia chinesa que promovia contrabando de celulares falsificados procedentes da China. A quadrilha também intermediava vistos de permanência no Brasil para imigrantes chineses em situação irregular”.
“Gravações mostraram conversas comprometedoras de Li com o então secretário nacional da Justiça, Romeu Tuma Jr. Nas conversas, Tuma Jr chegou a fazer encomendas a Li. Era uma relação tão próxima que, quando foi preso, Li telefonou para Tuma Jr na frente dos agentes da Polícia Federal”, diz Nogueira.
Leia, adiante, o texto de Paulo Nogueira:
Coisas do Brasil da governabilidade: Tuma Jr chegou à Secretaria Nacional de Justiça numa negociação para que o partido de seu pai, Romeu Tuma, aderisse à base aliada do governo Lula.
Para encurtar, Tuma Jr acabaria demitido.
Três anos depois, ele aparece com um livro no qual, segundo a Veja, existem revelações “estarrecedoras”. Repare: não são “acusações”. São “relevações”.
Você pode imaginar quais são os alvos da vingança de Tuma Jr. Ou melhor: o alvo. Lula, Lula e ainda Lula.
Como age a mídia nestes casos, além de tratar acusações como revelações? Esquecendo, por exemplo, de dizer quem é o acusador e o que está por trás de suas acusações.
Fiz uma breve pesquisa e fui dar num artigo do jornalista Carlos Brickman de alguns meses atrás, publicado no Observatório da Imprensa, de Alberto Dines.
Brickman falava do livro, que estava por sair. Já no título o veredito de Brickman estava manifestado: “Um livro fura a imprensa”. Quer dizer: se fura é porque é sério, profundo, embasado.
Li duas vezes o texto de Brickman em busca de alguma informação que me ajudasse a entender quem é Tuma Jr, e o que estava por trás de suas acusações.
Nada.
Repito: nada.
Não há uma única menção às relações de Tuma Jr com a máfia chinesa, e sua consequente demissão.
De Brickman vou ao site da Veja. Topo com Reinaldo Azevedo. Em negrito, ele inicia assim seu artigo:
“O LIVRO-BOMBA – Tuma Jr. revela os detalhes do estado policial petista.”
Enfrentei o texto copioso de Azevedo. Como em Brickman, nem uma única menção ao passado de Tuma Jr. Ao pobre leitor são negadas informações essenciais se você quer cobrir com decência um caso de decnúncia.
Vejo que Tuma Jr, numa de suas mais estridentes acusações – ou “revelações” –, invoca o pai morto.
Quer dizer: o “documento” que ele apresenta no caso é a palavra, aspas, do pai morto.
Isto diz tudo.
Quanto a mim, aguardo um livro-bomba de Carlinhos Cachoeira com revelações devastadoras sobre Lula, e rio sozinho ao imaginar o aproveitamento que a Veja dará a isso.
Tom Sérgio, do Blog Jordão em Foco.

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