Cansados de esperar pelas promessas dos gestores do governo do Acre,
servidores da Unidade Mista de Jordão, município distante 462 km da
capital Rio Branco, denunciam que o hospital apresenta diversas
irregularidades, entre elas, servidores acumulando cargos de forma
irregular, falta de profissionais, estrutura precária do prédio,
deficiência no fornecimento de alimentos para os pacientes e
profissionais durante os plantões, favorecimento de pessoas sem
qualificação técnica que ocupar os cargos de gestão e problemas na
lavanderia.
A reportagem de ac24horas foi procurada por servidores que pediram
para não ser identificados por medo de sofrer represálias. Eles
apresentaram escalas de trabalho que comprovam o acumulo irregular de
funções na unidade de saúde. Os denunciantes informam que na unidade
mista de saúde faltam equipamentos como desfibrilador, materiais para
intubação, respirador, eletrocardiograma, carro de emergência, carro
para deslocamento da bala de oxigênio nas dependências da unidade e
problemas na acomodação do lixo hospitalar.
O serviço de Raio X estaria sem funcionar há 11 meses por falta de
radiologista, havendo a necessidade de deslocamento de paciente para
fazer o exame de imagem em outras cidades. A falta de profissionais de
nível superior para supervisionar o serviço de enfermagem também foi
denunciada. O COREN determina que o trabalho na área na pode ser
executado apenas pelos técnicos e auxiliares. Os servidores informam que
há enfermeiros concursados para serem convocados, mas o hospital
utiliza profissionais do município de Tarauacá.
“No mês de janeiro um enfermeiro foi deslocado do município de
Tarauacá, já no mês de fevereiro não foi possível, a maioria dos
plantões acontece apenas técnicos e auxiliares de enfermagem. Na
lavanderia temos outro grande problema com maquinas inadequadas para
lavagem das roupas e lençóis do hospital, equipamentos de EPIS
inadequados para os funcionários do setor, pois lavam as roupas sujas de
sangue e secreções com luvas de procedimento, as roupas após lavadas
não são esterilizadas e nem engomadas”, diz um servidor.
Os denunciantes informam ainda que os trabalhadores da lavanderia do
hospital executam suas funções com roupas e calçados inadequados. “Quero
aqui colocar uma observação sobre o risco que os mesmos correm, uma
média de 60% da população é portador de alguma tipo de hepatite e mais
recentemente temos dois casos de HIV confirmados, os trabalhadores
correm riscos de serem infectados. Chegam em janeiro de 2016, novas
maquinas para a lavanderia mas estão encostadas por falta de espaço na
unidade”, informa um denunciante.
Acumulo ilegal de funções
Segundo os denunciantes, Cleisse Maria da
Conceição Vales, que ocupa o cargo de gerente administrativa da Unidade
Mista de Saúde de Jordão, através do Dect. Est. N°2474/201 de 22 de maio
de 2015 – é também funcionaria do Serviço Social de Saúde do Acre
(Pró-Saúde), como auxiliar de copa e cozinha e estaria recebendo o
salário indevidamente sem prestar serviços no Pró-Saúde. O cargo de
gerencia exercido pela servidora requer dedicação exclusiva e os dois
contratos seriam incompatíveis, já que são de 40 horas.
Outra irregularidade seria que a portaria de Cleisse Maria da Conceição
Vales é no nome de sua irmã Maria Cleicivani da Conceição Vales, também
funcionaria do hospital na função de Microscopista. Sendo que
Cleicivani também faz acumulo de cargos, ela é funcionária da
prefeitura de Jordão e do Pró-Saúde, cargos com carga horária estipulada
de 40 horas semanais. “Como se não fosse suficiente os dois cargos,
ainda foi solicitado pela gerente, plantões extras para a mesma e o
outro microscopista, junto a Secretaria de Saúde”, ressaltam os
denunciantes.
Além dos dois cargos ocupados por Maria Cleicivani da Conceição
Vales, no dia 18 de Dezembro de 2015 – a portaria N° 1.118 designou a
servidora para exercer o cargo de Gerente Geral cumulativamente com a
Gerencia Administrativa com percepção de gratificação. “Tendo em vista a
titular do cargo está de licença maternidade”, sendo que a candidata
concursada ao cargo aguarda convocação e tem especialização na aérea
pela USP. Denominando provimento precário de vaga por preterição de
candidato, já que Cleisse não realizou concurso.
“Logo depois foi nomeado o servidor Paulo Figueiredo para a gerencia
administrativa, ele é primo do ex-secretário de Saúde do Estado, Armando
Melo, que colocou um parente no cargo. Paulo Figueiredo também é
responsável pelo TFD com direito a gratificação. O governo não usa
critérios técnicos para nomear pessoas para cargos como os de gerentes
de unidades de saúde. A indicação política é que prevalece. Não se pode
confundir instituições que cuidam de vidas com repartições para acomodar
apadrinhados”, desabafa um servidor.
De acordo com os servidores, o hospital não tem como dar assistência
necessária nos casos de emergência. “A falta de condições físicas e
materiais na unidade de saúde é um problema que se arrasta nos 24 anos
de existência do município. Enfrentamos problemas como a ausência de uma
sala adequada para o Raio X. O aparelho está há 11 meses sem utilidade
no hospital. Estamos pedindo socorro neste tão distante e isolado
município. Nós servidores, contamos e recebemos muita proteção de Deus
para continuar servido a população”, enfatizam.
Problemas na alimentação
Os denunciantes apresentaram diversas fotografias da alimentação que é
servida na unidade de saúde. Eles destacam que os pacientes precisam
seguir dietas conforme o quadro clínico e prescrição medica, mas a
cozinha não dispõe de nutricionista e a comida que é servida é sempre
afogada em óleo e bastante gordura. “Falta conhecimento da direção para
cobrar e orientar os serviços e promover condições adequadas no
fornecimento de utensílios e alimentação necessários. Esse despreparo
acaba prejudicando a recuperação dos pacientes”.
O governo estaria disponibilizando R$ 18 mil mensais para
alimentação, sendo que os servidores ressaltam que “a unidade não tem
esse fluxo de pacientes para gastar tudo isso em uma alimentação
inadequada”. Fotos de alimento estragados e mofados que os denunciantes
disponibilizaram à reportagem demonstram que o ambiente da cozinha é
totalmente insalubre. O problema se estende a outras de pendências da
unidade de saúde. “Não temos matérias adequados, a unidade e varrida com
vassoura de cipó, pois não temos outro tipo para realizar a limpeza”.
“Como pode ser observado nas fotos a unidade tem várias
irregularidades como o lixo armazenado de forma indevida, fossas
abertas, dieta dos pacientes inadequadas, desperdício na alimentação,
ares-condicionados com defeito. É desumana as condições em que uma
parturiente se sujeita a passar na hora de dar à luz com um calor
infernal numa sala que mede 2×2 metros. Esperamos que o Ministério
Público Estadual fiscalize e recomende mudanças neste hospital que ao
invés de curar pode até causar a morte de pacientes”, finalizam os
denunciantes.
O OUTRO LADO
Acerca dos questionamentos feitos pela reportagem, a Secretaria de
Saúde do Estado do Acre (Sesacre) esclarece que providências estão sendo
tomadas para que não falte nenhum profissional da área de enfermagem na
Unidade Mista de Saúde (UMS) do Jordão.
Quanto aos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para os
servidores da lavanderia, a Sesacre reforça que a unidade disponibiliza
botas e luvas para os trabalhadores. Além disso, máquinas para a
lavanderia também já estão na unidade. A Sesacre está em processo para
ampliação da área onde ficarão as novas máquinas.
O aparelho de Raio-X da unidade está em perfeito estado de
funcionamento e a Sesacre já busca um profissional qualificado para
atender na unidade, tendo em vista que o profissional que atuava na UMS,
aprovado em concurso, pediu demissão e o segundo colocado convocado não
apareceu para preencher a vaga.
Acerca da questão dos alimentos, a Secretaria ressalta que a
alimentação é feita na própria unidade e servida logo após aos
pacientes, acompanhantes e servidores sem nenhuma possibilidade de
estragar, tendo em vista que a unidade conta com cozinheiras capacitadas
e, além disso, a Unidade Mista de Saúde recebe a visita da equipe da
Vigilância Sanitária, não tendo registros de notificações.
Com relação aos casos envolvendo os servidores, todas as denúncias
serão apuradas e, caso seja comprovada alguma irregularidade, a
Secretaria tomará as devidas providências.
Fonte: ac24horas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário