Ao contrário de muitos, não
conheci os Soldados da Borracha por meio dos livros. Cresci ouvindo as
histórias da boca dos próprios. Refiro-me ao meu pai e meus tios, recrutados e
convocados a dar sua cota mensal para ajudar os países aliados no esforço de
guerra.
Acompanhei ainda na
infância, as reclamações de que quando a guerra acabou a maioria sequer ficou
sabendo e continuou sendo explorada pelos donos dos barracões, enquanto os
“pracinhas de guerra” voltavam da Europa sendo condecorados pelo governo
brasileiro, merecidamente. Mas a outra parte desta história, nós os da
Amazônia, conhecemos: o esquecimento, o abandono, a injustiça.
Comemorei com eles, a pensão
de dois salários mínimos, obtida graças ao esforço de Aluizio Bezerra, Nabor
Júnior, Osmir Lima e tantos outros, apesar da luta destes parlamentares terem
sido por uma pensão igual a dos pracinhas. O pagamento de pensão de 2 salários
mínimos foi a vitória possível naquele momento. E eu reconheço: foi uma grande
vitória.
Ao chegar à Câmara dos
Deputados, no início do meu primeiro mandato, trazia na bagagem a expectativa
dos bravos de casa para a correção de um erro histórico. Ao tomar conhecimento
da Proposta de Emenda à Constituição 556/2002, de autoria da então deputada
Vanessa Grazziotin, uni-me a ela na luta pela aprovação. Fui nomeada relatora
da PEC e daí travamos 11 anos de insistência e negociação com cada presidente
da Câmara, líder do governo e presidente da República.
Foi uma longa e, muitas
vezes, solitária caminhada porque muitos deputados, até então, não acreditavam
na possibilidade de vitória.
Nos últimos 3 meses, o
presidente da Câmara e a bancada do Acre ajudaram a pressionar e o governo
abriu a negociação. Mas o governo nunca aceitou, sequer, a possibilidade de
chegar perto da proposta original, apresentada pela hoje senadora Vanessa e
relatada por mim. Cada proposta que o governo apresentava na mesa era de cortar
o coração e eu me envergonhava, de mais uma vez, o Brasil desconhecer seus
heróis.
A penúltima proposta do
governo era pagar 50 mil reais de indenização para os soldados vivos. Apesar da
alegria do meu pai, eu não podia aceitar uma proposta que deixaria as viúvas sem
nada. Por isso, continuei na briga.
Na mesa de negociação, o
governo nos apresentou um problema: a impossibilidade de novas leis utilizando
o salário mínimo como fator de reajuste automático de qualquer remuneração. E
isso nos preocupou. Dissemos que íamos para o enfrentamento, voto a voto no
Plenário. O governo nos alertou: se aprovássemos nova Lei mantendo a vinculação
ao salário mínimo poderíamos sofrer uma ADIN (Ação Direta de
Inconstitucionalidade). O que significa que poderíamos até ganhar no plenário,
mas perderíamos na Justiça.
Queríamos mais, muito mais.
Não deu. E eu não via opção, entre continuar assistindo os velhos Soldados da
Borracha morrendo sem nada e a possibilidade de colocarem agora no bolso uma
indenização de R$ 25 mil para os soldados vivos, as viúvas dos que já morreram
e os dependentes que já recebem a pensão. Lembrei que nesses 11 anos de luta
pela aprovação da PEC, já morreram mais soldados do que os que estão vivos
hoje. Aí não tive dúvidas: colocar 25 mil reais no bolso dos nossos velhinhos
era a melhor opção.
Já no plenário, ao anunciar
o resultado da votação, me emocionei quando lembrei da luta dos nossos heróis,
a minha árdua e insistente batalha para conseguir algo para eles. Lembrei-me
dos que já se foram sem alcançar o benefício. A eles, gostaria de dizer: não
foi o que queríamos vocês merecem muito mais, mas foi à vitória possível. Como
nos ensinou Paulo Freire, foi a construção “do inédito viável”.
A indenização de 25 mil
reais dos nossos Soldados é uma realidade.
A PEC agora está no Senado.
Acredito no esforço dos nossos três senadores, Jorge, Aníbal e Petecão. Eles,
como eu, sabem que nossos heróis merecem muito mais. Confio que o Aníbal, agora
relator, também vai lutar por mais. Estarei junto com eles, para o que for necessário.
Mas lembro e insisto: vamos
correr e votar o mais rápido possível. Nossos heróis, quase todos perto dos 90
anos, outros tantos já beirando os 100, já não aguentam mais esperar.
Se vigiarmos e acelerarmos,
eles já, já, poderão colocar seus 25 mil reais no bolso.
E nossa luta vai continuar,
enquanto um Soldado da Borracha existir.
TOM SÉRGIO, DO BLOG JORDÃO EM FOCO.